Entrevista | 15 anos depois, Geisy Arruda revela que perdeu fortuna por se recusar a usar vestido rosa: 'Foi traumático pra mim'
Publicado em 6 de novembro de 2024 17:32
Por Matheus Queiroz | Notícias dos famosos, TV e reality show
Jornalista por vocação, apaixonado por música, colecionador de CDs e neto perdido de Rita Lee.
Em entrevista ao Purepeople, Geisy Arruda relembra o dia em que foi hostilizada em uma faculdade, um explícito episódio de misoginia e violência contra a mulher que chocou o Brasil há 15 anos.
Entrevista | 15 anos depois, Geisy Arruda revela que perdeu fortuna por se recusar a usar vestido rosa novamente: 'Um trauma' Geisy Arruda: episódio do 'vestido rosa' completou 15 anos em outubro Geisy Arruda foi hostilizada e perseguida por alunos da universidade onde estudava por estar com um vestido curto Geisy Arruda concedeu entrevista ao Purepeople para falar dos 15 anos do episódio do 'vestido rosa' Geisy Arruda voltou a usar o vestido rosa para relembrar os 15 anos do episódio que mudou a sua vida
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Era a noite do dia 22 de outubro de 2009. Geisy Vila Nova Arruda, na época, com 20 anos, era mais uma das milhares de jovens que saíram de casa rumo à faculdade, já ansiando a esticada que daria com amigas em um bar nas proximidades. Vaidosa assumida, ela tirou um vestido rosa curto e bem chamativo do armário. Comprada em liquidação, a peça custou R$ 50. No entanto, o que parece ser a descrição de uma noite banal para qualquer universitário, já dura 15 anos para aquela estudante de turismo.

Geisy foi hostilizada e perseguida por uma multidão na faculdade e precisou deixar o local escoltada pela Polícia Militar. Tudo isso por conta de um vestido curto. O caso - um explícito episódio de misoginia e violência contra a mulher - chocou até mesmo o Brasil de 2009, quando as discussões sobre feminismo e direito das mulheres ainda eram tímidas na grande mídia.

A violência contra Geisy foi além do campus: no mês seguinte, a União Bandeirante de Educação expulsou a estudante, sob alegações de que ela tinha "uma postura incompatível com o ambiente da universidade". "O problema não era a roupa, mas a forma de se portar, de falar, de rebolar", disse Décio Lencioni Machado, assistente jurídico da Uniban, em entrevista à Folha de São Paulo. A instituição voltou atrás após muita pressão popular.

O episódio também transformou a vida da jovem positivamente. Geisy virou o que se chamava de "personalidade da mídia" nos anos 2000 - seria injusto chamar de "subcelebridade" alguém que deu entrevista ao "Fantástico" e ganhou cobertura no The New York Times. Ela foi contratada da Record TV e da RedeTV!, posou nua para revista masculina, supostamente por um cachê de R$ 300 mil, e integrou o elenco de "A Fazenda".

Mas a volta por cima não significa que ela superou todos os traumas. 15 anos depois, Geisy relembra o episódio em entrevista ao Purepeople, revela o desconforto que sente ao usar o vestido rosa novamente e expõe que nunca recebeu pedidos de desculpas dos envolvidos. Confira.

Purepeople: Consegue descrever o que aconteceu no fatídico 22 de outubro de 2009? O que você lembra desse dia?

Geisy Arruda: Eu já ouvi essa pergunta milhares de vezes e é muito difícil responder. Porque é muito difícil tentar explicar um efeito borboleta, tentar explicar porque três mil universitários te ofenderam, te humilharam, te importunaram. Eu não consigo responder por eles, mas posso dizer a minha parte.

Eu fui com aquele vestido porque, de lá, eu ia pra um barzinho. Como eu usava transporte público, tem horário, não dava tempo de trocar de roupa. Então, já era a roupa da balada. Quando eu cheguei e subi a rampa, ouvi uns assobios, uns galanteios, uns gritos. Meu vestido subia, porque era muito curto, eu abaixava... Nada demais. O meu jeito extravagante, exibicionista, vaidoso, talvez tudo isso tenha incomodado essas pessoas. Na hora do intervalo, todos eles se juntaram e resolveram me agredir. Eu sofri agressões verbais e até mesmo importunação sexual poderia ter acontecido naquele dia se meu professor não tivesse chamado a polícia e me tirado de lá.

É muito difícil dizer porque eles fizeram aquilo. Não sei se foi por causa do jeito. Só sei que eu fui com um vestido que eu gostava muito, que eu já tinha usado outras vezes. Simplesmente, foi pura maldade, inveja, desconforto por uma mulher ser tão livre, tão ousada e querer ser sexy.

PP: Hoje, vivemos em um país polarizado. Ao mesmo tempo que questões relacionadas às minorias avançaram, vemos uma crescente onda de conservadorismo. Você acha que um episódio do tipo seria possível nos dias de hoje?

GA: Acredito que não. O que aconteceu comigo levantou muitas questões na sociedade, debates. As pessoas pararam pra pensar sobre importunação sexual, sobre julgar uma mulher pela roupa, desvalorizar pela roupa. Então, acho que nos dias de hoje, isso não aconteceria. Talvez, de forma mais velada, mas não assim. Hoje, as pessoas até poderiam falar, mas falariam mais baixo, não causariam tudo isso. Nesses 15 anos, graças a Deus, foram criadas leis que protegem mulheres e seus corpos. O que aconteceu comigo faz parte disso, eu ajudei essas leis que protegem as mulheres hoje e há 15 anos não existiam.

PP: Durante todo aquele processo, muita gente tentou te culpar pela violência que você sofreu, inclusive, a própria universidade. Como foi esse processo de entender e reafirmar que você era a vítima nessa história?

GG: Eu demorei uma semana pra entender que eu não era culpada. Eu só consegui entender que eu era vítima quando eu comecei a conversar com psicólogos, advogados, jornalistas, feministas... Elas começaram a me explicar que, independente do tamanho do meu vestido, isso não era um convite pra ser agredida, abusada e, Deus me livre, até estuprada, molestada. A imprensa foi muito importante na época porque me defendeu, me deu direito de fala, como você tá fazendo agora, me deu direito de resposta, de dizer que eu não estava fazendo absolutamente nada, a não ser usar um vestido curto e querer ser bonita e sexy. Então, foi uma semana de culpa, mas depois eu tive o livramento quando eu entendi que eu não era culpada e, sim, a vítima.

A gente vive numa sociedade onde a mulher tem que ter um comportamento e se ela passa desse comportamento, ela acaba sendo julgada. Temos uma linha tênue a seguir, de comportamento, de boas maneiras, e mulheres ousadas demais antes eram queimadas, né? Eram as bruxas. Hoje, elas são importunadas. Infelizmente, isso não mudou muito, mas as leis estão aí pra tentar ajudar.

PP: Você tem contato com algum colega dos tempos da faculdade? Recebeu algum pedido de desculpas de alunos e, principalmente, da universidade que te expulsou de forma bem arbitrária?

GA: Não, nunca ninguém me pediu desculpas. A faculdade me pagou R$ 50 mil de indenização por danos morais, porque eu ganhei na justiça. E foi um dos dias mais felizes da minha vida quando eu ganhei a ação. E eles gastaram muito mais que R$ 50 mil com advogados, pagando postagens em TVs, em jornais, onde eles me expulsaram, me culparam e depois voltaram atrás. Eles preferiram gastar muito dinheiro pra me culpar, mas, no final, eu consegui. Ter ganhado a ação contra a faculdade foi uma das maiores vitórias da minha vida e um dos dias mais felizes quando eu saí de frente do juiz com a causa ganha. Esse dia eu nunca vou esquecer, é glorioso pra mim.

PP: Sua ascensão na mídia aconteceu de forma muito espontânea. Em que momento você percebeu que tinha se tornado uma pessoa famosa e que poderia transformar aquilo em uma profissão?

GA: Quando as pessoas me paravam na rua, quando eu era reconhecida. Naquela época, só tinha Orkut. As pessoas assistiam e consumiam muito mais televisão do que hoje. Hoje, a gente tem todas essas redes sociais, mais as plataformas digitais. Então, essas senhorinhas que assistiam às novelas, as que assistiam ao Faustão e ao Gugu, todas elas sabiam. As avós, as mães, as filhas... Como naquela época a internet não tinha o poder que tem, a minha história entrou na casa das pessoas de forma muito rápida. Eu dei entrevista pro "Fantástico", pro "Jornal Nacional", pra CNN, pra BBC, pro The New York Times. Então, deu assunto o que aconteceu comigo. O episódio da faculdade se tornou mundial. Foi uma coisa muito grande, foi estrondoso o tamanho da repercussão. Foi espantoso, não se espera do Brasil, um país tão tropical, que vende tanta sexualidade no carnaval, que uma jovem espevitada, exibida, seja quase molestada por estar com um vestido curto.

PP: Da leva de personalidades da mídia dos anos 2000, você foi uma das poucas que se manteve relevante até os dias de hoje. Qual o segredo?

GA: Acredito que as pessoas que me acompanharam e que sabem da minha história ficam abismadas e ficam: 'mas por que? O vestido nem era tudo isso'. Acho que o espanto que fez com que até hoje as pessoas falem e comentem, o absurdo, de uma coisa totalmente fora de nexo. Eu também tive oportunidades muito boas, eu trabalhei na Record por muitos anos, foi acolhida por muitos programas de TV, trabalhei com Gugu, meu padrinho. E também o respeito que eu trato a imprensa e a todos, acho que tudo isso contribuiu a meu favor. Minha personalidade fez com que as pessoas me abraçassem há 15 anos e até hoje elas me respeitam por isso, graças a Deus. Sou muito agradecida a todos que me ajudaram e me ajudam até hoje.

PP: Atualmente, você faz sucesso nas plataformas de conteúdo adulto. O vestidinho rosa é muito fetichizado por lá? Recebe muitos pedidos inusitados relacionados a ele?

GA: Tem dois ensaios nas minhas plataformas: um de 2019, quando [o episódio] completou 10 anos, e tá tendo um agora. Porque as pessoas pediram. Eu já perdi milhares de reais, não sei nem contar quanto eu perdi em cachê por falar: 'não vou usar o vestido nessa publicidade, não vou dar uma noite de autógrafos nessa boate com esse vestido'. Sei lá... R$ 500 mil? Não faço ideia. Há 15 anos, eu digo 'não' pra esse tipo de proposta. Eu jogaria uns R$ 500 mil que eu já perdi por não querer usar o vestido. Tirando entrevistas, reportagens... Teve uma [entrevista] que eu ia dar, faz pouco tempo, quando eu cheguei lá, queriam me levar pra porta da faculdade. Eu falei: 'cancela a gravação, combinei com vocês que a gente ia gravar num restaurante'. Eu falei pro meu assessor: 'ou você fala com eles pra fazer o que a gente combinou ou eu vou embora e cancelo a gravação'. Eu não vejo porquê ir na porta de uma faculdade pra fazer gravação. Pra você ver o quanto isso foi traumático pra mim.

Por mais que eu tenha feito terapia, colocar o vestido me remete a tudo. É como se eu voltasse no tempo. Então, ao mesmo tempo que o vestido lembra a volta por cima que eu dei, tudo que eu tenho hoje, que é graças a mim e às minhas escolhas, usar o vestido me transporta praquele dia. Então, é um trauma que a minha psicóloga disse que... Se não me faz bem, eu não devo vestir. Então, eu visto muito raramente essa peça.

PP: As plataformas de conteúdo adulto são sua principal fonte de renda hoje?

GA: Sim! Eu tenho quatro livros de contos eróticos lançados. Na pandemia, eu trabalhei em um podcast de contos eróticos que eu tinha assinantes e consegui fazer um bom dinheiro também.

PP: Pode revelar uma média de faturamento?

GA: Não. Acho que falar de valores, falar em dinheiro, é uma maneira de você se vangloriar e eu não sou esse tipo de pessoa. Meu trabalho é muito sério, tanto nas plataformas, como em tudo que eu faço. Eu faço o meu melhor, quem me assina sabe. Mas eu não gosto de ficar falando de dinheiro que isso me soa um pouco deselegante.

PP: O que você vislumbra para o futuro da sua carreira? Vai continuar trabalhando com mídia e internet ou almeja outros mercados?

GA: Eu tenho algumas casas de aluguel, tenho dinheiro investido e trabalho com o que gosto. Eu produzo minhas fotos, eu tenho meu fotógrafo, que é meu assessor e empresário, eu escolho e trato as minhas fotos. Eu tenho total controle das minhas plataformas, as pessoas que trabalham comigo são poucas, bem seletas, eu sou bem seletiva com relação a isso. Até porque eu sempre mantive a rédea curta e sempre estive à frente de tudo nesses anos, principalmente, nas plataformas adultas. Desde a iluminação ao figurino, as poses, a escolha das fotos, os vídeos caseiros, tudo é feito por mim, aprovado por mim. É a maneira que eu trabalho, porque eu não quero fazer nada que eu venha a me arrepender no futuro, que eu venha a ter vergonha, que é o que acontece geralmente. Então, eu tenho controle sobre isso.

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